quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Sumários das aulas de 16 a 20 de Fevereiro.

Preparação da visita de estudo à Lisboa de Fernando Pessoa.
Conclusão do estudo da poesia de Ricardo Reis: Leituras, análise de poemas e síntese das principais características.
Oficina de escrita.
Breve introdução ao estudo da peça Felizmente há Luar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Relatório da Aula de Português do dia 5 de Fevereiro




(Imagem enviada pelo aluno)
Tal como já vem sendo habitual às quintas-feiras, iniciámos a aula de Português pelas catorze horas e quarenta e cinco minutos na sala duzentos e quatro.
A primeira leitura foi feita pelo aluno Ricardo Coelho, após alguma agitação de parte da turma com o relatório da aula de dia dois de Fevereiro.
De seguida a professora informou que, tal como tinha combinado na aula anterior, já possuía as fotocópias para a preparação da visita de estudo à LIsboa Pessoana.
Algo que também já tem vindo a ser lido nas aulas de Português é o livro Exercícios de Estilo de Raymond Queneau, sendo que desta vez o texto denominava-se de "Apartes". Houve uma pequena explicação, da parte da professora, do que deve ser entendido por apartes. Estes pertencem sobretudo ao texto dramático, onde usualmente se convenciona que não são ouvidas pelas outras personagens, mas apenas pelo público presente.
Prosseguimos com a leitura pela professora de um livro novo que esta trouxera. Denominado Cadernos de Lanzarote e escrito por José Saramago, este é um diário deste já famoso escritor. O primeiro texto que ouvimos foi relativo ao dia 11 de Janeiro, e refere-se à primeira vez que o autor teve contacto com Ricardo Reis.
Falámos um pouco sobre José Saramago, que é proveniente de uma família humilde, e que por essas mesmas razões durante o discurso de agradecimento do prémio Nobel que recebeu, agradeceu sobretudo à sua família, mas em especial aos seus avós.
O texto que ouvimos começa com uma pequena descrição da escola Afonso Domingues. Esta era uma escola industrial que possuía diversos cursos e onde Literatura era uma disciplina leccionada. A acção decorre quando o autor possuía cerca de 16 ou 17 anos e foi nessa altura que na biblioteca da escola que “se começou a escrever Ricardo Reis”. Saramago recorda o facto de na altura não ter conhecimento do facto de Ricardo Reis ser um heterónimo de Fernando Pessoa.
As leituras prosseguiram com o Álvaro de Campos, de quem foram lidos diversos poemas. A "Ode Marítima" na página 185 do manual, foi lida pela professora e pela turma. Os alunos limitaram-se a ler algumas palavras relacionadas com o mar. Este poema para além de possuir alguma influência de Alberto Caeiro torna-se bastante interessante pelas suas intersecções. O poema, tal como é costume nos textos deste autor, possui um tom épico e deve ser lido de forma exaltada e entusiástica.
De seguida lemos o poema "Dactilografia", também este de Álvaro de Campos. Neste poema também foi feita uma leitura conjunta da professora com os alunos. Inicialmente apenas as palavras relacionadas com a fase futurista deste poeta foram lidas pela turma, sendo que de seguida fez-se uma nova leitura, onde os alunos apenas leram as palavras relacionadas com Fernando Pessoa ortónimo e o Decadentismo. Podemos classificar este poema como pertencente à terceira fase, ou seja, à fase intimista de Álvaro de Campos.
Virámos a página, ao encontro do poema "Acaso", para desta vez os alunos lerem apenas as palavras ligadas ao Futurismo. Este poema, de tom irónico, refere-se a uma visão pelo sujeito poético de uma rapariga loira numa rua, numa cidade, mas que após uma interpretação um pouco mais profunda, afinal já não o era. Aqui existe uma forte ideia de fragmentação do sujeito poético, também pelo facto de este também ser da terceira fase do Álvaro de Campos.
Continuando a vaga de Álvaro de Campos prosseguimos para o poema "Aniversário". Aqui as palavras que pertenciam aos alunos relacionavam-se com o aniversário, enquanto a professora continuou a ler o texto integral.
Após uma interrupção da parte do aluno (...) devido ao seu telemóvel não se encontrar em silêncio, continuámos a leitura com o poema "O que há em mim é sobretudo cansaço", onde foi proposto à turma que lesse a palavra cansaço de forma fatigada. Este poema, tal como os outros lidos nesta aula, pertence à parte intimista do poeta, pertencendo também ao modernismo.
Aqui o poeta afirma estar cansado, e após uma interpretação da turma, com o auxílio da professora, apercebemo-nos que este está cansado da sua fase anterior que se caracteriza sobretudo por ser eufórica.
Finamente, foi lido o poema "Apontamento" que se localiza na página 183 do manual. Aqui foi referido por alguns alunos que o poema já tivera uma interpretação musical. Este poema caracteriza-se sobretudo pelas constantes comparações entre a alma e um vaso que se partiu no chão, apostando na ideia de fragmentação do sujeito poético. Um poema que se caracteriza pela presença de Ricardo Reis, quando é referida a presença de divindade, pela falta de rimas, pelos excessivos paradoxos e pela fragmentação do eu.
Terminámos assim já perto da hora de tocar uma aula que se destinou quase por completo à leitura e à interpretação de poemas de Álvaro de Campos.

Afonso Botelho, 12A

Relatório do dia 4 de Fevereiro de 2009

Relatório da aula de Português do dia 4 de Fevereiro de 2009


A professora começou por esclarecer dúvidas dos alunos referentes à questão das obras da escola. Aconselhou-nos a manter a calma e confiar nos professores.

Em seguida foi-nos lido mais um capítulo do livro Figuras de estilo de Raymond Queneau com o título "Apartes". Este nome refere-se a uma das três falas do texto dramático sendo que as outras duas se denominam diálogo e monólogo. O diálogo consiste na fala de duas ou mais personagens; no monólogo a personagem fala consigo própria e os “apartes”são intervenções das personagens dirigidas ao público.

Interligando a matéria já dada com o capítulo a seguir previsto, a professora leu-nos um excerto do Diário de José Saramago intitulado Cadernos de Lanzarote e falou-nos de uma outra obra do mesmo autor (O ano da morte de Ricardo Reis), onde Saramago imagina que Fernando Pessoa morre e Ricardo Reis, que vive no Brasil, ao ler a notícia do seu falecimento, vem imediatamente para Portugal para assistir ao funeral do seu criador. Afinal, segundo a professora, Ricardo Reis encontra-se com o fantasma de Pessoa com o qual dialoga durante de algum tempo.

Posteriormente lemos os textos das páginas 182 e 184 do manual sobre o heterónimo Álvaro de Campos e o Futurismo, em que a professora destacou a diferença entre Caeiro e Álvaro de Campos, sendo o primeiro definido como naturalista, calmo, um apreciador da natureza e o segundo arrebatado, intenso e excessivo no modo de sentir, acabando por cair numa melancolia e nostalgia (a sua terceira fase, intimista) em que a sua poesia se aproxima da do ortónimo Fernando Pessoa.

Analisámos quatro poemas de Álvaro de Campos, sendo que todos se inserem na terceira fase (intimista).

O primeiro poema intitula-se "Dactilografia":
Encontrámos algumas marcas que remetem para o futurismo, como seja a linguagem técnica (plano, engenheiro e projecto) e também o” tic -tac das máquinas de escrever”.
A professora salientou o facto da sua poesia, nesta terceira fase, se aproximar do ortónimo Fernando Pessoa, pela sua nostalgia.

O segundo poema intitula-se "Acaso":
Neste poema destacámos a incapacidade do poeta viver o presente por se encontrar agarrado ao passado, ou seja, o poeta fixa-se num dado instante desse passado e acaba por não construir novas memórias. O poeta sente-se incapaz de viver de outro modo e transmite-nos a angústia que essa situação lhe provoca, uma vez que ele dela tem consciência.

O terceiro poema denomina-se "O que há em mim é sobretudo cansaço":
Neste poema o poeta exprime saturação pelo modo como os outros encaram a vida. Aquilo que para eles é importante provoca-lhe cansaço, tédio e aborrecimento. A posição assumida pelo poeta subverte a lógica do senso comum por desejar de forma diferente e coisas diferentes.

Por último analisámos o poema "Apontamento":
Este poema tem como tema a fragmentação do eu e a sua defesa e nele, destacam-se as seguintes ideias:
A alma, enquanto vazo vazio não tinha valor e só depois de estilhaçada ganhou verdadeira importância, pois ao partir-se ficou maior que o todo.

“ (…) Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso (…)”

“ (…) Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu (…)”


Cada “caco” (cada eu do poeta) tem a consciência de si próprio mas ignora a existência dos outros “cacos” (eus), não tendo consciência do todo.

“ (…) Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si-mesmos, não conscientes deles. (…) “


Trabalho realizado por: Ana Pinto 12º E

Alguns textos que poderão interessar os grupos que estão a organizar a visita de dia 19:

Sinopse:

“Existe uma Lisboa paralela a cada obra nascida dentro da cidade. Uma Lisboa que respira nas tábuas de Nuno Gonçalves ou nas odes de Álvaro de Campos. Talvez a olissipografia tenha deixado essa Lisboa de lado, mas tem sido a presença permanente da cidade na escrita de alguns autores o principal remissivo utilizado pelas gerações seguintes: o topónimo aterro evoca-nos, inevitavelmente, Eça de Queiroz; assim como a Rua do Arsenal é Cesário ou a Almirante Reis é Rodrigo Miguéis. (...)

Esta primeira geografia pessoana é mais do que uma viagem através da cidade onde Fernando Pessoa nasceu, viveu e morreu. É, sobretudo, uma nova aventura a partir de textos conhecidos e uma nova forma de os ilustrar. Dos cenários quotidianos, dos hábitos e referências que fizeram uma época, nos dá conta a recolha iconográfica. Mas, guiada pelos próprios textos de Pessoa, esta viagem a Lisboa recorta cada fotografia num cenário de inquietação e de fingimento. E mesmo os prédios pombalinos que alinham escritórios semelhantes entre si (os escritórios onde trabalhou), ou as casas que foi alugando ao longo da vida (inevitavelmente longe do coração da Baixa), recolhem, hoje, pacificamente, à nossa memória das frases pessoanas. ‘Oh, Lisboa, meu lar!’.”



Marina Tavares Dias, na introdução ao livro Lisboa de Fernando Pessoa.



*
“Escrevo atentamente, curvado sobre o livro em que faço a lançamentos a história inútil de uma firma obscura; e ao mesmo tempo o meu pensamento segue, com igual atenção, a rota de um navio inexistente por paisagens de um oriente que não há. As duas coisas estão igualmente nítidas, igualmente visíveis perante mim: a folha onde escrevo com cuidado, nas linhas pautadas, os versos da epopeia comercial de Vasques e C.ª, e o convés onde vejo com cuidado, um pouco ao lado da pauta alcatroada dos interstícios das tábuas, as cadeiras longas alinhadas, e as pernas saídas dos que sossegam na viagem.”
Bernardo Soares

*


"Tenho o dever de me fechar em casa no meu espírito e trabalhar

quanto possa e em tudo quanto possa, para o progresso da

civilização e o alargamento da consciência da humanidade"

Fernando Pessoa


*
JOÃO PEREIRA COUTINHO
COLUNISTA DA FOLHA

Portugal é um país com vocação para o fado. Inevitável, dirão alguns: como é possível que um pequeno país europeu, dono do mundo no século 15, tenha sobrevivido à perda do Império com a cabeça limpa?
Resposta evidente: não sobreviveu. O Brasil, verdade seja dita, ainda animou as hostes a partir do século 16. Mas, quando Napoleão resolveu marchar para a Península Ibérica, o agudo sentido de decadência nunca mais abandonou os nativos.
Em 1807, o rei fazia as malas e fugia para o Brasil; o Brasil, poucos anos depois, declarava a independência; e as guerras civis em solo luso fizeram o resto. Ser português era sofrer: era lembrar a glória perdida e suspirar de tédio ou náusea. De Eça de Queirós a Oliveira Martins, não houve intelectual com pretensões que não tenha escrito sobre o “atraso” nacional.
Portugal era aquele sítio que dava vontade de morrer. Ou, então, dava vontade de matar.
Dito e feito: em 1908, o rei d. Carlos era assassinado a tiro.
Veio a República. E, com ela, veio um estado de violência revolucionária que durou até 1926, altura em que os militares acabaram com a festa e prepararam o caminho para Salazar.
O livro de Fernando Pessoa, “Lisboa - O que o Turista Deve Ver”, um inédito escrito em 1925 (em inglês), não pode ser entendido sem a História. Não pode ser entendido sem o forte sentido de “descategorização civilizacional” que não poderia deixar de entristecer um “patriota cosmopolita” como Pessoa. Será esse sentimento que o levará a exaltar Lisboa para consumo estrangeiro.
A Lisboa que o leitor tem nas páginas do livro é sempre excesso: os funcionários são “competentes”, “poliglotas”, “afáveis”; todos os edifícios são “belos”, ou “obras-primas”, ou exemplares “sem paralelo na Europa”.

Contornos
Confrontado com tais descrições, a primeira atitude é questionar se uma cidade assim tão perfeita existiu algum dia na Terra. Uma coisa é certa: para quem vive hoje em Lisboa, a cidade apresentada no livro ganha contornos fantasmagóricos. Sim, alguns elementos continuam no sítio: a belíssima Praça do Comércio continua a maravilhar os turistas e a albergar os serviços públicos; e, claro, os Jerónimos serão sempre os Jerónimos.
Mas, em contrapartida, onde está essa baixa pombalina que, em 1925, apresentava lojas “tão luxuosas como as suas congêneres européias”? Não está mais. E também não estão os hotéis do Rossio, que fugiram para a parte alta da cidade. Ou os cinemas da avenida da Liberdade, que hoje estão nos shoppings da periferia.
E se Pessoa, em 1925, se indignava com os lisboetas que não visitavam o frondoso Parque Eduardo VII, não sei o que diria ele hoje: “freqüentar o Parque Eduardo VII” é uma forma elegante para designar o negócio da prostituição na capital portuguesa.
Uma passagem, porém, despertou-me um sorriso irônico: ao passar pelo Chiado, em 1925, Pessoa prestava homenagem à estátua do poeta António do Espírito Santo. Quem diria que, em 2008, o poeta do Chiado seria outro. Neste caso, o próprio Fernando Pessoa, transformado em estátua e sentado à mesa de um café.

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LISBOA - O QUE O TURISTA DEVE VER
Autor: Fernando Pessoa
Tradução: Maria Aurélia Santos Gomes
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 39 (192 págs.)
Avaliação: regular


JOÃO PEREIRA COUTINHO
COLUNISTA DA FOLHA

*

«Amo, pelas tardes demoradas de verão, o sossego da cidade baixa, e sobretudo aquele sossego que o contraste acentua na parte que o dia mergulha em mais bulício. A Rua do Arsenal, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais quedos - tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjunto.

Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de me sentir coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele.

Por ali arrasto, até haver noite, uma sensação de vida parecida com a dessas ruas. De dia elas são cheias de um bulício que não quer dizer nada; de noite são cheias de uma falta de bulício que não quer dizer nada. Eu de dia sou nulo, e de noite sou eu. Não há diferença entre mim e as ruas para o lado da Alfândega, salvo elas serem ruas e eu ser alma, o que pode ser que nada valha, ante o que é a essência das coisas. Há um destino igual, porque é abstracto, para os homens e para as coisas - uma designação igualmente indiferente na álgebra do mistério.»


(Livro do Desassossego: Composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa / Fernando Pessoa)

*
(Alerto para algumas estranhezas deste texto, dado tratar-se de Português do Brasi):

[...]Também Fernando Pessoa, em o Livro do Desassossego, joga com o fingimento a partir de dados autobiográficos. Na detecção desta realidade fingida, o leitor situa-se num território instável, perdido entre os apelos da realidade e os apelos do mundo ficcional. No capítulo intitulado: "Autobiografia sem fatos", o narrador desses fragmentos de desassossego, Bernardo Soares, já estabelece as regras do jogo:

Invejo - mas não sei se invejo - aqueles de quem se pode escrever uma biografia, ou que podem escrever a própria. Nesta impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem fatos, a minha história sem vida. São as minhas Confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer ( Pessoa, 1986, 45).

As possibilidades de certeza sobre os fatos se entremostram e se desfazem, deixando um gosto amargo de frustração. O narrador compartilha uma cena de rua com um "passante", com quem já se deparara anteriormente em suas andanças pelas ruas de Lisboa. De uma frase casual trocada, nascem as apresentações:

A certa altura ele perguntou-me se eu escrevia. Respondi que sim. Falei-lhe da revista "Orpheu", que havia pouco aparecera. Ele elogiou-a bastante, e eu então pasmei deveras. Permiti-me observar-lhe que estranhava, porque a arte dos que escrevem em "Orpheu" sói ser para poucos ( Pessoa, 1986, 44 ).

Este dado histórico - referência a "Orpheu"- remete a Fernando Pessoa, mas não elucida o mistério sob as máscaras. Esclarece Leila Perrone-Moisés na "Introdução"9 de o Livro do Desassossego:

A intromissão desse dado histórico nos remete a Fernando Pessoa: seria ele quem teria encontrado Bernardo Soares e, nesse caso, seria ele o narrador desse encontro? Ou teria sido Bernardo Soares que encontrara Fernando Pessoa e lhe falara de Orpheu ? Afinal, ambos correspondem ao mesmo retrato falado: empregado de escritório e escritor. Vertiginoso encontro especular em que o dado real (Orpheu) autentica os dois interlocutores como existentes, ao mesmo tempo que indetermina a autoria do Livro, desrealizando-o (Perrone-Moisés, 25-26 ).

A busca, nessas notas "autobiográficas", de um centro ordenador dos conhecidos heterônimos, que poderiam não passar de uma farsa, sob o controle de Fernando Pessoa, perde-se em dispersão e labirinto. A identidade do narrador espalha-se em personagens fictícias, em que Fernando Pessoa não mantém, como se poderia esperar, o controle de um grupo de marionetes. E diz Leila Perrone-Moisés:"O que é certo é que o teatro pessoano nada tem de um divertimento farsesco. Ele não foi uma invenção artística concebida com distanciamento; foi um modo de viver (de escrever) inevitável e horrível para aquele que sofria de uma irreparável falta de ser" (Perrone- Moisés, 1986, 27 ).

A referência a nomes de pessoas e nomes de ruas que comprovadamente existem ou existiram passam para o texto um cunho de realidade. No percurso pelas ruas concretas de Lisboa, o Poeta recupera a presença de Cesário Verde, com quem compartilha seu isolamento:

A Rua dos Arsenal, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais quedos - tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjunto. Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância, igual a dos versos que foram dele (Pessoa, 1986, 121).

O Livro do Desassossego, ancorado na realidade, é, todavia, uma autobiografia fingida ou um fingimento autobiográfico, onde mesmo que Bernardo Soares fosse considerado uma simples máscara literária de Fernando Pessoa, não se poderia considerar esse diário íntimo de um retrato fiel de Fernando Pessoa. Esta nova máscara complica mais ainda a procura de certezas de um sujeito lúcido e ordenador:

Não é por ser um empregado de comércio doublé de escritor, por ser solitário, triste e irônico que Bernardo Soares se parece tanto com Fernando Pessoa. Ele se parece tanto com Pessoa por ser a mais fluída, a mais inconsistente, a mais mutante, a menos "personalidade" das "personalidades" pessoanas (Perrone- Moisés, 1986, 27).

Memória e fingimento: os jogos de
Fernando Pessoa e Roberto Drummond no exercício da escritura


*
Sim, é o poente. Chego à foz da Rua da Alfândega, vagaroso e disperso, e, ao clarear-me o Terreiro do Paço, vejo, nítido, o sem sol do céu ocidental. Esse céu é de um azul esverdeado para cinzento branco, onde, do lado esquerdo, sobre os montes da outra margem, se agacha, amontoada, uma névoa acastanhada de cor-de-rosa morto. Há uma grande paz que não tenho dispersa fria- mente no ar outonal abstracto. Sofro de não ter o prazer vago de supor que ela existe. Mas, na realidade, não há paz nem falta de paz: céu apenas, céu de todas as cores que desmaiam – azul branco, verde ainda azulado, cinzento pálido entre verde e azul, vagos tons remotos de cores de nuvens que o não são, amareladamente escurecidas de encarnado findo. E tudo isto é uma visão que se extingue no mesmo momento em que é tida, um intervalo entre nada e nada, alado, posto alto, em tonalidades de céu e mágoa, prolixo e indefinido.

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(Alerto para alguma estranheza relacionada com o facto de o texto estar grafado com a grafia original, logo, de acordo com a norma da época em que foi escrito)

Amo, pelas tardes demoradas de verão, o socego da cidade baixa, e sobretudo aquele socego que o contraste acentua na parte que o dia mergulha em mais bulício. A Rua do Arsenakl, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha separada dos cães quedos - tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjuncto. Vivo uma era anterior aquela em que vivo; goso de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os d'ele, mas a substância igual à dos versos que foram d'ele.

Por ali arrasto, até haver noite, uma sensação de vida parecida com a d'essas ruas. De dia elas são cheias de um bulício que não quer dizer nada; de noite são cheias de uma falta de bulício que não quer dizer nada. Eu de dia sou nulo, e de noite sou eu. Não há diferença entre mim e as ruas para o lado da Alfândega, salvo elas serem ruas e eu ser alma, o que pode ser que nada valha, ante o que é a essencia das cousas. Há um destino igual, porque é abstracto, para os homens e para as cousas - uma designação igualmente indiferente na algebra do mistério.

Mas há mais alguma cousa... Nessas horas lentas e vazias, sobe-me da alma à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma cousa externa, que não está em meu poder alterar. Ah, quantas vezes os meus próprios sonhos se me erguem em cousas, não para me substituirem a realidade, mas pare se me confessarem seus pares em eu os não querer, em me surgirem de fora, como o eléctrico que dá a volta na curva extrema da rua, ou a voz do apregoador nocturno, de não sei que cousa, que se destaca, toda arabe, como um repuxo subito, da monotonia do entardecer!

Passam casaes futuros, passam os pares das costureiras, passam rapazes com pressa de prazer, fumam no seu passeio de sempre os reformados de tudo, a uma ou outra porta reparam em pouco os vadios parados que são donas das lojas. Lentos, fortes e fracos, os recrutas sonanbulizam em molhas ora muito ruidosos, [?] ora mais que ruidosos. Gente normal surge de vez em quando. Os automoveis ali a esta hora não são muito frequentes; [...] No meu coração há uma paz de angústia, e o meu sossego é feito de resignação.

Passa tudo isso, e nada de tudo isso me diz nada, tudo é alheio ao meu sentir, [...] quando o acaso deita pedras, echos de vozes incógnitas - salada colectiva da vida.

O cansaço de todas as ilusões e de tudo o que há nas ilusões - a perda d'elas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perde-las, a mágoa de as ter tido, a vetonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim.

A consciência da inconsciência da vida é o mais antigo imposto à inteligencia. Há inteligências inconscientes... brilhos do espírito, correntos do entendimento, vozes [...] e philosophias que tem o mesmo entendimento que os reflexos corporeos, que a gesão que o fígado e os rins fazem de suas secreções.

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Maria de Lourdes Abreu de Oliveira
Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora - CES/JF

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Carta de Fernando pessoa ao seu amigo Mário Beirão:

"Estou actualmente atravessando uma daquelas crises a que, quando se dão na agricultura, se costuma chamar "crise de abundância".

Tenho a alma num estado de rapidez ideativa tão intenso que preciso fazer da minha atenção um caderno de apontamentos, e, ainda assim, tantas são as folhas que tenho a encher que algumas se perdem, por elas serem tantas, e outras se não podem ler depois, por com mais que muita pressa escritas. As ideias que perco causam-me uma tortura imensa, sobrevivem-se nessa tortura escuramente outras. V. dificilmente imaginará que a Rua do Arsenal, em matéria de movimento, tem sido a minha pobre cabeça. Versos ingleses, portugueses, raciocínios, temas, projectos, fragmentos de coisas que não sei o que são, cartas que não sei como começam ou acabam, relâmpagos de críticas, murmúrios de metafísicas... toda uma literatura, meu caro Mário, que vai da bruma - para a bruma - pela bruma...

Destaco de coisas psíquicas de que tenho sido o lugar o seguinte fenômeno que julgo curioso. V. sabe, creio, que de várias fobias que tive guardo unicamente a assaz infantil mas terrivelmente torturadora fobia das trovoadas. O outro dia o céu ameaçava chuva e eu ia a caminho de casa e por tarde não havia carros. Afinal não houve trovoada, mas esteve iminente e começou a chover — aqueles pingos graves, quentes e espaçados — ia eu ainda a meio caminho entre a Baixa e minha casa. Atirei-me para casa com o andar mais próximo do correr que pude achar, com a tortura mental que V. calcula, perturbadíssimo, confrangido eu todo. E neste estado de espírito encontro-me a compor um soneto[1] — acabei-o uns passos antes de chegar ao portão de minha casa —, a compor um soneto de uma tristeza suave, calma, que parece escrito por um crepúsculo de céu limpo. E o soneto é não só calmo, mas também mais ligado e conexo que algumas coisas que eu tenho escrito. O fenômeno curioso do desdobramento é a coisa que habitualmente tenho, mas nunca o tinha sentido neste grau de intensidade... "

Fernando Pessoa, 1 de Fevereiro de 1913

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Uma só coisa me maravilha mais do que a estupidez com que a maioria dos homens vive a sua vida: é a inteligência que há nessa estupidez.

A monotonia das vidas vulgares é, aparentemente, pavorosa. Estou almoçando neste restaurante vulgar, e olho, para além do balcão, para a figura do cozinheiro, e, aqui ao pé de mim, para o criado já velho que me serve, como há trinta anos, creio, serve nesta casa. Que vidas são as destes homens? Há quarenta anos que aquela figura de homem vive quase todo o dia numa cozinha; tem umas breves folgas; dorme relativamente poucas horas; vai de vez em quando à terra, de onde volta sem hesitação e sem pena; armazena lentamente dinheiro lento, que se não propõe gastar; adoeceria se tivesse que retirar-se da sua cozinha (definitivamente) para os campos que comprou na Galiza; está em Lisboa há quarenta anos e nunca foi sequer à Rotunda, nem a um teatro, e há um só dia de Coliseu — palhaços nos vestígios interiores da sua vida. Casou não sei como nem porquê, tem quatro filhos e uma filha, e o seu sorriso, ao debruçar-se de lá do balcão em direcção a onde eu estou, exprime uma grande, uma solene, uma contente felicidade. E ele não disfarça, nem que razão para que disfarce. Se a sente é porque verdadeiramente a tem.

E o criado velho que me serve, e que acaba de depor ante mim o que deve ser o milionésimo café da sua deposição de café em mesas? Tem a mesma vida que a do cozinheiro, apenas com a diferença de quatro ou cinco metros — os que distam da localização de um na cozinha para a localização do outro na parte de fora da casa de pasto. No resto, tem dois filhos apenas, vai mais vezes à Galiza, já viu mais Lisboa que o outro, e conhece o Porto, onde esteve quatro anos, e é igualmente feliz.

Revejo, com um pasmo assustado, o panorama destas vidas, e descubro, ao ir ter horror, pena, revolta delas, que quem não tem nem horror, nem pena, nem revolta, são os próprios que teriam direito a tê-las, são os mesmos que vivem essas vidas. E o erro central da imaginação literária: supor que os outros são nós e que devem sentir como nós. Mas, felizmente para a humanidade, cada homem é só quem é, sendo dado ao génio, apenas, o ser mais alguns outros.

Tudo, afinal, é dado em relação àquilo em que é dado. Um pequeno incidente de rua, que chama à porta o cozinheiro desta casa, entretem-no mais que me entretem a mim a contemplação da ideia mais original, a leitura do melhor livro, o mais grato dos sonhos inúteis. E, se a vida é essencialmente monotonia, o facto é que ele escapou à monotonia mais do que eu. E escapa à monotonia mais facilmente do que eu. A verdade não está com ele nem comigo, porque não está com ninguém; mas a felicidade está com ele deveras.

Sábio é quem monotoniza a existência, pois então cada pequeno incidente tem um privilégio de maravilha. O caçador de leões não tem aventura para além do terceiro leão Para o meu cozinheiro monótono uma cena de bofetadas na rua tem sempre qualquer coisa de apocalipse modesto. Quem nunca saiu de Lisboa viaja no infinito no carro até Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte. O viajante que percorreu toda a terra não encontra de cinco mil milhas em diante novidade, porque encontra só coisas novas; outra vez a novidade, a velhice do eterno novo, mas o conceito abstracto de novidade ficou no mar com a segunda delas.

Um homem pode, se tiver a verdadeira sabedoria, gozar o espectáculo inteiro do mundo numa cadeira, sem saber ler, sem falar com alguém, só com o uso dos sentidos e a alma não saber ser triste.

Monotonizar a existência, para que ela não seja monótona. Tornar anódino o quotidiano, para que a mais pequena coisa seja uma distracção. No meio do meu trabalho de todos os dias, baço, igual e inútil, surgem-me visões de fuga, vestígios sonhados de ilhas longínquas, festas em áleas de parques de outras eras, outras paisagens, outros sentimentos, outro eu. Mas reconheço, entre dois lançamentos, que se tivesse tudo isso, nada disso seria meu. Mais vale, na verdade, o patrão Vasques que os Reis de Sonho; mais vale, na verdade, o escritório da Rua dos Douradores do que as grandes áleas dos parques impossíveis. Tendo o patrão Vasques, posso gozar o sonho dos Reis de Sonho; tendo o escritório da Rua dos Douradores, posso gozar a visão interior das paisagens que não existem. Mas se tivesse os Reis de Sonho, que me ficaria para sonhar? Se tivesse as paisagens impossíveis, que me restaria de impossível?

A monotonia, a igualdade baça dos dias mesmos, a nenhuma diferença de hoje para ontem — isto me fique sempre, com a alma desperta para gozar da mosca que me distrai, passando casual ante meus olhos, da gargalhada que se ergue volúvel da rua incerta, a vasta libertação de serem horas de fechar o escritório, o repouso infinito de um dia feriado.

Posso imaginar-me tudo, porque não sou nada. Se fosse alguma coisa, não poderia imaginar. O ajudante de guarda-livros pode sonhar-se imperador romano; o Rei de Inglaterra não o pode fazer, porque o Rei de Inglaterra está privado de ser, em sonhos, outro rei que não o rei que é. A sua realidade não o deixa sentir.

Livro do Desassossego


*

Disse Amiel que uma paisagem é um estado de alma, mas a frase é uma felicidade frouxa de sonhador débil. Desde que a paisagem é paisagem, deixa de ser um estado de alma. Objectivar é criar, e ninguém diz que um poema feito é um estado de estar pensando em fazê-lo. Ver é talvez sonhar, mas se lhe chamamos ver em vez de lhe chamarmos sonhar, é que distinguimos sonhar de ver.

De resto, de que servem estas especulações de psicologia verbal? Independentemente de mim, cresce erva, chove na erva que cresce, e o sol doira a extensão da erva que cresceu ou vai crescer; erguem-se os montes de muito antigamente, e o vento passa com o mesmo modo com que Homero, ainda que não existisse, o ouviu. Mais certa era dizer que um estado da alma é uma paisagem; haveria na frase a vantagem de não conter a mentira de uma teoria, mas tão-somente a verdade de uma metáfora.

Estas palavras casuais foram-me ditadas pela grande extensão da cidade, vista à luz universal do sol, desde o alto de S. Pedro de Alcântara. Cada vez que assim contemplo uma extensão larga, e me abandono do metro e setenta de altura, e sessenta e um quilos de peso, em que fisicamente consisto, tenho um sorriso grandemente metafísico para os que sonham que o sonho é sonho, e amo a verdade do exterior absoluto com urna virtude nobre do entendimento.

O Tejo ao fundo é um lago azul, e os montes da Outra Banda são de uma Suíça achatada. Sai um navio pequeno - vapor de carga preto - dos lados do Poço do Bispo para a barra que não vejo. Que os Deuses todos me conservem, até à hora em que cesse este meu aspecto de mim, a noção clara e solar da realidade externa, o instinto da minha inimportância, o conforto de ser pequeno e de poder pensar em ser feliz.


Livro do Desassossego

Sumários das aulas da semana de 9 a 13 de Fevereiro

12 A: Conclusão da preparação da visita de estudo à Lisboa de Fernando Pessoa.
A poesia de Ricardo Reis. Epicurismo e estoicismo, neo-classicismo.
Leitura e análise. Leitura de um excerto de O Ano da Morte de Ricardo Reis.
12 E: A poesia de Álvaro de Campos: conclusão.
A poesia de Ricardo Reis. Introdução: Epicurismo, estoicismo e neo-classicismo.. Análise de poemas.
Leitura de um excerto de O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago.

Leitura e análise. Leitura de um excerto de O Ano da Morte de Ricardo Reis.
12H:A poesia de Álvaro de Campos: conclusão.
Introdução à poesia de Ricardo Reis: o epicurismo e o estoicismo.
Leitura e análise de poemas.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A reacção de José Saramago...

... ao filme Ensaio Sobre a Ceguera:
(Vídeo enviado pela Vera. Obrigada, é realmente, como tinhas dito, um comovente momento de verdade)

http://www.youtube.com/watch?v=Y1hzDzAvJOY

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Álvaro de Campos...

... descoberto hoje numa aula pela Nadine, como autor de textos para música; interpretado por Margarida Pinto. Poema "Apontamento".
(Obrigada ao Afonso pelo link)


http://www.youtube.com/watch?v=qL-cB3OIG2s




Apontamento



A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Visita de estudo à Lisboa de Pessoa

Haverá duas modalidades: duas turmas terão uma visita guiada por um historiador da Câmara.
A primeira aconteceu hoje e durou cerca de duas horas. À chuva. Os alunos aguentaram estoicamente sem se queixarem. A visita foi bastante interessante, pareceu-me que gostaram.
NO dia 18 irá a segunda turma.

A terceira turma terá a tarefa de preparar a visita, que ocorrerá no dia 19:
- 8 grupos de espaços, a partir de materiais em fotocópia e livros. Os alunos estão organizados em grupos, verificando o que existe em cada espaço, que textos serão lidos, o que deverá ser dito, etc. Recomendo que não escolham textos longos, mas pequenos excertos, para a visita ter alguma leveza. É natural que um ou outro aluno ou grupo se desloque previamente ao "seu" espaço para verificar algo que necessite. COmo se trata de uma visita interdisciplinar, o professor de gdA intervirá em determinados momentos que considerar oportunos.
Os “pacotes” dos sítios são os seguintes, embora dentro de cada pacote os espaços possam não ser percorridos por esta ordem, ainda preciso de ir in loco perceber a forma mais racional de percorrer alguns dos sítios sem gastar demasiados passos.
Espaços, ruas, casas, números, na próxima segunda-feira irão trabalhar um pouco mais nisto.
Como vamos visitar mais espaços do que os percorridos na visita de hoje, prevejo que esta visita dure, no mínimo, três horas. Talvez mais. Contemos com quatro. Oxalá não chova… 


Espaço 1
- Largo de S. Carlos, Basílica dos Mártires, Brasileira do Chiado (Francisco, Tiago)
Espaço 2- Praça Camões, Rua Nova do Almada, Largo do Carmo (Fábio, Pedro)
Espaço 3- Estação do Rossio, Rua 1º de Dezembro, Rossio (Margarida, Carlos)
Espaço 4- Rua do Arco, Praça da Figueira, Rua da Betesga, Rua da Prata (Nadine, Afonso, Vera)
Espaço 5- R dos Fanqueiros, Rua Augusta, Rua do Ouro, Rua da Vitória (Minouche,Maria, Mariana); ( Ricardo, Sara, Ana)
Espaço 6- R. De S. Julião, R da Assunção, R. da Madalena, Campo das Cebolas (Madalena, Ana)
Espaço 7- R da Alfândega, Café Martinho, Terreiro do Paço, Cais das Colunas, (Diana, Bruna)
Espaço 8- Cais do Sodré, R do Arsenal, Rua de S. Paulo (Vasco, Miguel, Rodrigo)

Falta ainda um aluno integrar-se num destes grupos.

Nestes espaços há cafés, quartos, casas, escritórios, eléctricos, o rio, a encosta, chegadas de comboio (ex, Sá Carneiro, de Paris), ou meras alusões literárias. A partir da informação de que dispõe, cada grupo dará conta disso aos colegas, eu ajudarei, quando/se for necessário.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Sumários das aulas da semana de 2 a 6 de Fevereiro

12A:
Preparação da visita de estudo à "Lisboa Pessoana" no dia 19: definição dos espaços, organização dos grupos, leitura e pesquisa de textos de/sobre Pessoa e a cidade.
12E: A poesia de A Caeiro: análise, síntese, conclusão. A segunda fase de Álvaro de Campos: o futurismo. Leituras expressivas.
12H: Visita de estudo à Lisboa de Fernando Pessoa.

A, E, H: a fase intimista de Álvaro de Campos. Leituras e análise.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

ATENÇÃO: PESQUISA

Para quem me perguntou como fazer pesquisa bibliográfica acerca de Fernando Pessoa:
para além do CR da escola, das várias bibliotecas municipais e outras, e ainda algumas páginas sérias na internet (mas é preciso ser cauteloso, porque há sites com muitos erros de vários tipos) vejam link à direita, para a Biblioteca Nacional. O resultado da pesquisa indica-vos que livros existem e em que bibliotecas poderão encontrá-los.

http://porbase.bnportugal.pt/ipac20/ipac.jsp?session=12H3525568F6O.14730&profile=porbase&menu=tab19&submenu=subtab88&ts=1233525737796

"Tabacaria" de Álvaro de Campos

http://www.youtube.com/watch?v=de5RmUq-NL8&feature=PlayList&p=FD2C62B56308F86F&index=1

A "primeira" fase de Álvaro de Campos:

O decadentismo:
Álvaro de Campos



Opiário

Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro

É antes do ópio que a minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
já não encontro a mola pra adaptar-me.

Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os próprios gozos gânglios do meu mal.

É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.

Vou cambaleando através do lavor
Duma vida-interior de renda e laca.
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Precursor.

Ando expiando um crime numa mala,
Que um avô meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,
E caí no ópio como numa vala.

Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite cheia de brilhantes,
Ergue-se a lua como a minha Sina.

Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, cânfora na aurora.

Perdi os dias que já aproveitara.
Trabalhei para ter só o cansaço
Que é hoje em mim uma espécie de braço
Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.

E fui criança como toda a gente.
Nasci numa província portuguesa
E tenho conhecido gente inglesa
Que diz que eu sei inglês perfeitamente.

Gostava de ter poemas e novelas
Publicados por Plon e no Mercure,
Mas é impossível que esta vida dure.
Se nesta viagem nem houve procelas!

A vida a bordo é uma coisa triste,
Embora a gente se divirta às vezes.
Falo com alemães, suecos e ingleses
E a minha mágoa de viver persiste.

Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a índia e a China.
A terra é semelhante e pequenina
E há só uma maneira de viver.

Por isso eu tomo ópio. É um remédio
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.

Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim,
Muito a leste não fosse o oeste já!
Pra que fui visitar a Índia que há
Se não há Índia senão a alma em mim?

Sou desgraçado por meu morgadio.
Os ciganos roubaram minha Sorte.
Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte
Um lugar que me abrigue do meu frio.

Eu fingi que estudei engenharia.
Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avòzinha que anda
Pedindo esmola às portas da Alegria.

Não chegues a Port-Said, navio de ferro!
Volta à direita, nem eu sei para onde.
Passo os dias no smokink-room com o conde -
Um escroc francês, conde de fim de enterro.

Volto à Europa descontente, e em sortes
De vir a ser um poeta sonambólico.
Eu sou monárquico mas não católico
E gostava de ser as coisas fortes.

Gostava de ter crenças e dinheiro,
Ser vária gente insípida que vi.
Hoje, afinal, não sou senão, aqui,
Num navio qualquer um passageiro.

Não tenho personalidade alguma.
É mais notado que eu esse criado
De bordo que tem um belo modo alçado
De laird escocês há dias em jejum.

Não posso estar em parte alguma.
A minha Pátria é onde não estou.
Sou doente e fraco.
O comissário de bordo é velhaco.
Viu-me co'a sueca... e o resto ele adivinha.

Um dia faço escândalo cá a bordo,
Só para dar que falar de mim aos mais.
Não posso com a vida, e acho fatais
As iras com que às vezes me debordo.

Levo o dia a fumar, a beber coisas,
Drogas americanas que entontecem,
E eu já tão bêbado sem nada! Dessem
Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.

Escrevo estas linhas. Parece impossível
Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta!
O fato é que esta vida é uma quinta
Onde se aborrece uma alma sensível.

Os ingleses são feitos pra existir.
Não há gente como esta pra estar feita
Com a Tranqüilidade. A gente deita
Um vintém e sai um deles a sorrir.

Pertenço a um gênero de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.

Leve o diabo a vida e a gente tê-la!
Nem leio o livro à minha cabeceira.
Enoja-me o Oriente. É uma esteira
Que a gente enrola e deixa de ser bela.

Caio no ópio por força. Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir. Almas honestas
Com horas pra dormir e pra comer,

Que um raio as parta! E isto afinal é inveja.
Porque estes nervos são a minha morte.
Não haver um navio que me transporte
Para onde eu nada queira que o não veja!

Ora! Eu cansava-me o mesmo modo.
Qu'ria outro ópio mais forte pra ir de ali
Para sonhos que dessem cabo de mim
E pregassem comigo nalgum lodo.

Febre! Se isto que tenho não é febre,
Não sei como é que se tem febre e sente.
O fato essencial é que estou doente.
Está corrida, amigos, esta lebre.

Veio a noite. Tocou já a primeira
Corneta, pra vestir para o jantar.
Vida social por cima! Isso! E marchar
Até que a gente saia pla coleira!

Porque isto acaba mal e há-de haver
(Olá!) sangue e um revólver lá pró fim
Deste desassossego que há em mim
E não há forma de se resolver.

E quem me olhar, há-de-me achar banal,
A mim e à minha vida... Ora! um rapaz...
O meu próprio monóculo me faz
Pertencer a um tipo universal.

Ah quanta alma viverá, que ande metida
Assim como eu na Linha, e como eu mística!
Quantos sob a casaca característica
Não terão como eu o horror à vida?

Se ao menos eu por fora fosse tão
Interessante como sou por dentro!
Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro.
Não fazer nada é a minha perdição.

Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!
Pudesse a gente desprezar os outros
E, ainda que co'os cotovelos rotos,
Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!

Tenho vontade de levar as mãos
À boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraía os outros, os tais sãos.

O absurdo, como uma flor da tal Índia
Que não vim encontrar na Índia, nasce
No meu cérebro farto de cansar-se.
A minha vida mude-a Deus ou finde-a ...

Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
Até virem meter-me no caixão.
Nasci pra mandarim de condição,
Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.

Ah que bom que era ir daqui de caída
Pra cova por um alçapão de estouro!
A vida sabe-me a tabaco louro.
Nunca fiz mais do que fumar a vida.

E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas —
E basta de comédias na minh'alma!

(No Canal de Suez, a bordo)

A versão de Mário Viegas ouvida na aula:

Manifesto Anti-Dantas:

http://www.youtube.com/watch?v=CSRC6-XgSHo

Sobre a polémica, o texto de Fernando Dacosta:

http://www.prof2000.pt/users/tomas/almada_e_dantas_a_nu.htm

O texto ouvido na aula:

MANIFESTO ANTI-DANTAS E POR EXTENSO

por José de Almada-Negreiros

POETA D'ORPHEU FUTURISTA e TUDO



BASTA PUM BASTA!

UMA GERAÇÃO, QUE CONSENTE DEIXAR-SE REPRESENTAR POR UM DANTAS É UMA GERAÇÃO QUE NUNCA O FOI! É UM COIO D'INDIGENTES, D'INDIGNOS E DE CEGOS! É UMA RÊSMA DE CHARLATÃES E DE VENDIDOS, E SÓ PODE PARIR ABAIXO DE ZERO!

ABAIXO A GERAÇÃO!

MORRA O DANTAS, MORRA! Mão.jpg (2277 bytes)PIM!

UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS A CAVALO É UM BURRO IMPOTENTE!

UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS À PROA É UMA CANÔA UNI SECO!

O DANTAS É UM CIGANO!

O DANTAS É MEIO CIGANO!

O DANTAS SABERÁ GRAMMÁTICA, SABERÁ SYNTAXE, SABERÁ MEDICINA, SABERÁ FAZER CEIAS P'RA CARDEAIS SABERÁ TUDO MENOS ESCREVER QUE É A ÚNICA COISA QUE ELLLE FAZ!

O DANTAS PESCA TANTO DE POESIA QUE ATÉ FAZ SONETOS COM LIGAS DE DUQUEZAS!

O DANTAS É UM HABILIDOSO!

O DANTAS VESTE-SE MAL!

O DANTAS USA CEROULAS DE MALHA!

O DANTAS ESPECÚLA E INÓCULA OS CONCUBINOS!

O DANTAS É DANTAS!

O DANTAS É JÚLIO!

MORRA O DANTAS, MORRA! Mão.jpg (2277 bytes)PIM!

O DANTAS FEZ UMA SORÔR MARIANNA QUE TANTO O PODIA SER COMO A SORÔR IGNEZ OU A IGNEZ DE CASTRO, OU A LEONOR TELLES, OU O MESTRE D'AVIZ, OU A DONA CONSTANÇA, OU A NAU CATHRINETA, OU A MARIA RAPAZ!

E O DANTAS TEVE CLÁQUE! E O DANTAS TEVE PALMAS! E O DANTAS AGRADECEU!

O DANTAS É UM CIGANÃO!

NÃO É PRECISO IR P'RÓ ROCIO P'RA SE SER UM PANTOMINEIRO, BASTA SER-SE PANTOMINEIRO!

NÃO É PRECISO DISFARÇAR-SE P'RA SE SER SALTEADOR, BASTA ESCREVER COMO DANTAS! BASTA NÃO TER ESCRÚPULOS NEM MORAES, NEM ARTÍSTICOS, NEM HUMANOS! BASTA ANDAR CO'AS MODAS, CO'AS POLÍTICAS E CO'AS OPINIÕES! BASTA USAR O TAL SORRISINHO, BASTA SER MUITO DELICADO E USAR CÔCO E OLHOS MEIGOS! BASTA SER JUDAS! BASTA SER DANTAS!

MORRA O DANTAS, MORRA!Mão.jpg (2277 bytes) PIM!

O DANTAS NASCEU PARA PROVAR QUE, NEM TODOS OS QUE ESCREVEM SABEM ESCREVER!

O DANTAS É UM AUTOMATO QUE DEITA PR'A FÓRA O QUE A GENTE JÁ SABE QUE VAE SAHIR... MAS É PRECISO DEITAR DINHEIRO!

O DANTAS É UM SONETO D'ELLE-PRÓPRIO!

O DANTAS EM GÉNIO NUNCA CHEGA A PÓLVORA SECCA E EM TALENTO É PIM-PAM-PUM!

O DANTAS NÚ É HORROROSO!

O DANTAS CHEIRA MAL DA BOCA!

MORRA O DANTAS, MORRA! Mão.jpg (2277 bytes)PIM!

O DANTAS É O ESCARNEO DA CONSCIÊNCIA!

SE O DANTAS É PORTUGUEZ EU QUERO SER HESPANHOL!

O DANTAS É A VERGONHA DA INTELLECTUALIDADE PORTUGUEZA! O DANTAS É A META DA DECADÊNCIA MENTAL!

E AINDA HÁ QUEM NÃO CÓRE QUANDO DIZ ADMIRAR O DANTAS!

E AINDA HÁ QUEM LHE ESTENDA A MÃO!

E QUEM LHE LAVE A ROUPA!

E QUEM TENHA DÓ DO DANTAS!

E AINDA HÁ QUEM DUVIDE DE QUE O DANTAS NÃO VALE NADA, E QUE NÃO SABE NADA, E QUE NEM É INTELLIGENTE NEM DECENTE, NEM ZERO!

VOCÊS NÃO SABEM QUEM É A SOROR MARIANNA DO DANTAS? EU VOU-LHES CONTAR:

A PRINCÍPIO, POR CARTAZES, ENTREVISTAS E OUTRAS PREPARAÇÕES COM AS QUAES NADA TEMOS QUE VÊR, PENSEI TRATAR-SE DE SORÔR MARIANNA ALCOFORADO A PSEUDO AUCTORA D'AQUELLAS CARTAS FRANCEZAS QUE DOIS ILLUSTRES SENHORES D'ESTA TERRA NÃO DESCANÇARAM ENQUANTO NÃO ESTRAGARAM P'RA PORTUGUEZ, QUANDO SUBIU O PANNO TAMBÉM NÃO FUI CAPAZ DE DISTINGUIR PORQUE ERA NOITE MUITO ESCURA E SÓ DEPOIS DE MEIO ACTO É QUE DESCOBRI QUE ERA DE MADRUGADA PORQUE O BISPO DE BEJA DISSE QUE TINHA ESTADO À ESPERA DO NASCER DO SOL!

A MARIANNA VEM DESCENDO UMA ESCADA ESTREITÍSSIMA MAS NÃO VEM SÓ. TRAZ TAMBÉM O CHAMILLY QUE EU NÃO CHEGUEI A VER, OUVINDO APENAS UMA VOZ MUITO CONHECIDA AQUI NA BRAZILEIRA DO CHIADO. POUCO DEPOIS O BISPO DE BEJA É QUE ME DISSE QUE ELLE TRAZIA CALÇÕES VERMELHOS. A MARIANNA E O CHAMILLY ESTÃO SÒZINHOS EM SCENA, E ÀS ESCURAS DANDO A ENTENDER PERFEITAMENTE QUE FIZERAM INDECÊNCIAS NO QUARTO. DEPOIS O CHAMILLY, COMPLETAMENTE SATISFEITO DESPEDE-SE E SALTA P'LA JANELLA COM GRANDE MAGUA DA FREIRA LACRIMOSA. E ANDA HOJE OS TURISTES TEEM OCCASIÃO DE OBSERVAR AS GRADES ARROMBADAS DA JANELLA DO QUINTO ANDAR DO CONVENTO DA CONCEIÇÃO DE BEJA NA RUA DO TOURO, POR ONDE SE DIZ QUE FUGIU O CÉLEBRE CAPITÃO DE CAVALOS EM PARIS E DENTISTA EM LISBOA.

A MARIANNA QUE É HISTÉRICA COMEÇA DE CHORAR DESATINADAMENTE NOS BRAÇOS DA SUA CONFDENTE E EXCELLENTE PAU DE CABELEIRA SORÔR IGNEZ.

VEEM DESCENDO P'LA DITA ESTREITÍSSIMA ESCALA (sic), VARIAS MARIANNAS TODAS EGUAES E DE CANDEIAS ACESAS, MENOS UMA QUE USA ÓCULOS E BENGALLA E AINDA (sic) TODA CURVADA P'RÁ FRENTE O QUE QUER DIZER QUE É ABBADESSA.

E SERIA ATÉ UMA EXCELENTE PERSONIFICAÇÃO DAS BRUXAS DE GOYA SE QUANDO FALLASSE NÃO TIVESSE AQUELLA VOZ TÃO FRESCA E MAVIOSA DA TIA FELICIDADE DA VIZINHA DO LADO, E REPARANDO NOS DOIS VULTOS INTERROGA ESPAÇADAMENTE COM CADÊNCIA, AUSTERIDADE E IMMENSA FALTA DE CORDA...

QUEM ESTÁ AHI?... E DE CANDEIAS APAGADAS?

- FOI O VENTO, DIZEM AS POBRES INNOCENTES VARADAS DE TERROR... E A ABADESSA QUE SÓ É VELHA NOS ÓCULOS, NA BENGALA E EM ANDAR CURVADA P'RÁ FRENTE MANDA TOCAR A SINETA QUE É UM DÓ D'ALMA O OUVI-LA ASSIM TÃO DEBILITADA, VÃO TODAS P'RÓ CÔRO, MAS EIS QUE, DE REPENTE BATEM NO PORTÃO E SEM SE ANNUNCIAR NEM LIMPAR-SE DA POEIRA, SOBE A ESCADA E ENTRA P'LO SALÃO UM BISPO DE BEJA QUE QUANDO ERA NOVO FEZ BRÉGEIRICES CO'A MENINA DO CHOCOLATE.

AGORA COMPLETAMENTE EMENDADO REVELA À ABBADESSA QUE SABE POR CARTAS QUE HÁ HOMENS QUE VÃO ÀS MULHERES DO CONVENTO E QUE AINDA HÁ POUCO VIRA UM DE CAVALLOS A SALTAR P'LA JANELLA. A ABADESSA DIZ QUE EFFECTIVAMENTE JÁ HÁ TEMPOS QUE VINHA DANDO P'LA FALTA DE GALLINHAS E TÃO INNOCENTINHA, COITADA, QUE N'AQUELLES OITENTA ANNOS AINDA NÃO TEVE TEMPO P'RA DESCOBRIR A RAZÃO DA HUMANIDADE ESTAR DIVIDIDA EM HOMENS E MULHERES.

DEPOIS DE SÉRIOS EMBARAÇOS DO BISPO É QUE ELLA DEU COM O ATREVIMENTO E MANDOU CHAMAR AS DUAS FREIRAS DE HÁ POUCO CO'AS CANDEIAS APAGADAS. N'ESTA ALTURA ESTA PEÇA POLICIAL TOMA UM PEDAÇO D'INTERESSE PORQUE O BISPO ORA PARECE UM POLÍCIA DE INVESTIGAÇÃO DISFARÇADO EM BISPO, ORA UM BISPO COM A FALTA DE DELICADEZA DE UM POLÍCIA D'INVESTIGAÇÃO, E TÃO PERSPICAZ QUE DESCOBRE EM MENOS DE MEIO MINUTO O QUE O PÚBLICO JÁ ESTÁ FARTO DE SABER - QUE A MARIANNA DORMIU CO'O NOEL. O PEOR É QUE A MARIANNA FOI À SERRA CO'AS INDISCREÇÕES DO BISPO E DESATA A BERRAR, A BERRAR COMO QUEM SE ESTAVA MARIMBANDO P'RA TUDO AQUILLO. ESTEVE MESMO MUITO PERTO DE

SE ESTRElAR COM UM PAR DE MURROS NA CORÔA DO BISPO NO QUE (SE) MOSTROU DE UM ATREVIMENTO, DE UMA INSOLÊNCIA E DE UMA DECISÃO REFILONA QUE EXCEDEU TODAS AS EXPECTATIVAS.

OUVE-SE UMA CORNETA A TOCAR UMA MARCHA DE CLARINS E MARIANNA SENTINDO NAS PATAS DOS CAVALLOS TODA A ALMA DO SEU PREFERIDO FOI QUAL PARDALITO ENGAIOLADO A CORRER ATÉ ÀS GRADES DA JANELLA A GRITAR DESALMADAMENTE P'LO SEU NOEL. GRITA, ASSOBIA E REDOPIA E PIA E RASGA-SE E MAGÓA-SE E CAE DE COSTAS COM UM ACCIDENTE, DO QUE JÁ PREVIAMENTE TINHA AVISADO O PÚBLICO E O PANNO TAMBÉM CAE E O ESPECTADOR TAMBÉM CAE DA PACIÊNCIA ABAIXO E DESATA N'UMA DESTAS PATEADAS TÃO ENORMES E TÃO MONUMENTAES QUE TODOS OS JORNAES DE LISBOA NO DIA SEGUINTE FORAM UNÂNIMES N'AQUELLE ÊXITO TEATRAL DO DANTAS.

A ÚNICA CONSOLAÇÃO QUE OS ESPECTADORES DECENTES TIVERAM FOI A CERTEZA DE QUE AQUILLO NÃO ERA A SORÔR ALCOFORADO MAS SIM UMA MERDARIANNA ALDANTASCUFURADO QUE TINHA CHELIQUES E EXAGEROS SEXUAES.

CONTINUE O SENHOR DANTAS A ESCREVER ASSIM QUE HÁ-DE GANHAR MUITO CO'O ALCUFURADO E HÁ-DE VER, QUE AINDA APANHA UMA ESTÁTUA DE PRATA POR UM OURIVES DO PORTO, E UMA EXPOSIÇÃO DAS MAQUETES P'RÓ SEU MONUMENTO ERECTO POR SUBSCRIÇAO NACIONAL DO SÉCULO A FAVOR DOS FERIDOS DA GUERRA, E A PRAÇA DE CAMÕES MUDADA EM PRAÇA DO DR. JULIO DANTAS, E COM FESTAS DA CIDADE P'LOS ANNIVERSÁRIOS, E SABONETES EM CONTA «JULIO DANTAS» E PASTAS DANTAS P'RÓS DENTES, E GRAXA DANTAS P'RÁS BOTAS, E NIVEINA DANTAS, E COMPRIMIDOS DANTAS E AUTOCLISMOS

DANTAS E DANTAS, DANTAS, DANTAS, DANTAS... E LIMONADAS DANTAS - MAGNESIA.

E FIQUE SABENDO O DANTAS QUE SE UM DIA HOUVER JUSTIÇA EM PORTUGAL TODO O MUNDO SABERÁ QUE O AUTOR DOS LUZÍADAS É O DANTAS QUE N'UM RASGO MEMORÁVEL DE MODÉSTIA SÓ CONSENTIU A GLÓRIA DO SEU PSEUDÓNIMO CAMÕES.

E FIQUE SABENDO O DANTAS QUE SE TODOS FÔSSEM COMO EU, HAVERIA TAES MUNIÇÕES DE MANGUITOS QUE LEVARIAM DOIS SÉCULOS A GASTAR.

MAS JUYGAES QUE N'ISTO SE RESUME A LITTERATURA PORTUGUEZA? NÃÓ! MIL VEZES NÃO!

TEMOS, ALÉM D'ISTO O CHIANCA QUE JÁ FEZ RIMAS P'RA ALUBARROTA QUE DEIXOU DE SER A DERROTA DOS CASTELHANOS P'RA SER A DERROTA DO CHIANCA.

E AS PINOQUICES DE VASCO MENDONÇA ALVES PASSADAS NO TEMPO DA AVÔSINHA! E AS INFELICIDADES DE RAMADA CURTO! E O TALENTO INSÓLITO DE URBANO RODRIGUES! E AS GAITADAS DO BRUN! E AS TRADUCÇÕES SÓ P'RA HOMEM (D) O ILLUSTRÍSSIMO EXCELENTÍSSIMO SENHOR MELLO BARRETO! E O FREI MATTA NUNES MÔXO! E A IGNEZ SYPHILITICA DO FAUSTINO! E AS IMBECILIDADES DO SOUSA COSTA! E MAIS PEDANTICES DO DANTAS! E ALBERTO SOUSA, O DANTAS DO DESENHO! E OS JORNALISTAS DO SECULO E DA CAPITAL E DO NOTICIAS E DO PAIZ E DO DIA E DA NAÇÃO E DA REPUBUCA E DA LUCTA E DE TODOS, TODOS OS JORNAES! E OS ACTORES DE TODOS OS THEATROS! E TODOS OS PINTORES DAS BELLAS ARTES E TODOS OS ARTISTAS DE PORTUGAL QUE EU NÃO GOSTO. E OS DA AGUIA DO PORTO E OS PALERMAS DE COIMBRA! E A ESTUPIDEZ DO OLDEMIRO CESAR E O DOUTOR JOSÉ DE FIGUEIREDO AMANTE DO MUSEU E AH OH OS SOUSA PINTO HU HI E OS BURROS DE CACILHAS E OS MENÚS DO ALFREDO GUISADO! E (O) RACHITICO ALBINO FORJAZ SAMPAIO, CRITICO DA LUCTA A QUEM O FIALHO COM IMMENSA PIADA INTRUJOU DE QUE TINHA TALENTO! E TODOS OS QUE SÃO POLITICOS E ARTISTAS! E AS EXPOSIÇÕES ANNUAES DAS BELLAS ARTE(S)! E TODAS AS MAQUETAS DO MARQUEZ DE POMBAL! E AS DE CAMÕES EM PARIS! E OS VAZ, OS ESTRELLA, OS LACERDA, OS LUCENA, OS ROSA, OS COSTA, OS ALMEIDA, OS CAMACHO, OS CUNHA, OS CARNEIRO, OS BARROS, OS SILVA, OS GOMES, OS VELHOS, OS IDIOTAS, OS ARRANJISTAS, OS IMPOTENTES, OS SCELERADOS, OS VENDIDOS, OS IMBECIS, OS PÁRIAS, OS ASCETAS, OS LOPES, OS PEIXOTOS, OS MOTTA, OS GODINHO, OS TEIXEIRA, OS DIABO QUE OS LEVE, OS CONSTANTINO, OS GRAVE, OS MANTUA, OS BAHIA, OS MENDONÇA, OS BRAZÃO, OS MATTOS, OS ALVES, OS ALBUQUERQUE, OS SOUSAS E TODOS OS DANTAS QUE HOUVER POR AHI!!!!!!

E AS CONVICÇÕES URGENTES DO HOMEM CHRISTO PAE E AS CONVICÇÕES CATITAS DO HOMEM CHRISTO FILHO!

E OS CONCERTOS DO BLANCH! E AS ESTATUAS AO LEME, AO EÇA E AO DESPERTAR E A TUDO! E TUDO O QUE SEJA ARTE EM PORTUGAL! E TUDO! TUDO POR CAUSA DO DANTAS!

MORRA O DANTAS, MORRA!PIM!

PORTUGAL QUE COM TODOS ESTES SENHORES, CONSEGUIU A CLASSIFICAÇÃO DO PAIZ MAIS ATRAZADO DA EUROPA E DE TODO OMUNDO! O PAIZ MAIS SELVAGEM DE TODAS AS ÁFRICAS! O EXILIO DOS DEGRADADOS E DOS INDIFERENTES! A AFRICA RECLUSA DOS EUROPEUS! O ENTULHO DAS DESVANTAGENS E DOS SOBEJOS! PORTUGAL INTEIRO HA-DE ABRIR OS OLHOS UM DIA - SE É QUE A SUA CEGUEIRA NÃO É INCURÁVEL E ENTÃO GRITARÁ COMMIGO, A MEU LADO, A NECESSIDADE QUE PORTUGAL TEM DE SER QUALQUER COISA DE ASSEIADO!

MORRA O DANTAS, MORRA! PIM!

José de Almada-Negreiros



POETA D'ORPHEU

FUTURISTA

e

TUDO

Relatório da aula de 26 de Janeiro de 2009

A aula inicia-se com a leitura de mais um poema do poeta Walt Whitman e a professora pede-nos para tentarmos identificar características da poesia de Fernando Pessoa contidas neste mesmo poema. Foram encontradas algumas: quando o poeta refere “Celebro-me e canto-me” rapidamente associamos ao entusiasmo e êxtase contido nas obras de Álvaro de Campos e quando este faz algumas referências ao olhar, ao sentido visão, faz lembrar Alberto Caeiro, pois o poeta era sensacionista do olhar. Depois desta análise, o aluno Francisco Torres chega à aula e leu, de seguida, o seu relatório referente à aula passada. A professora perguntou aos alunos se estes têm alguma coisa a comentar, como já é habitual, e não havendo ninguém a professora acrescentou que o relatório do Francisco estava bastante bom e completo.
Após a leitura do relatório e da intervenção da professora, esta leu, como já tem sido habitual, mais capítulos da obra Exercícios de estilo, de Raymond Queneau. Todas as versões contam a mesma história, só que apenas de maneiras diferentes. Hoje a professora leu as seguintes versões: “Insistência”, que pelo próprio nome indica insistia em alguns pormenores da história até ao final desta até se tornar cansativo, “Ignorância”, e “Alexandrinos”, que é uma versão de poesia clássica.
De seguida, e antes de iniciarmos o tema da aula, a professora deu algumas informações a propósito da visita de estudo que iremos realizar acerca de Fernando Pessoa.
Antes de iniciarmos a leitura de alguns poemas, a professora informou-nos de algumas características de Alberto Caeiro, tais como: é uma poesia paradoxal, “pensar é estar doente dos olhos”, é a metafísica da anti-metafísica, existem inúmeras metáforas que fazem referências ao pastor e ao rebanho. Esta metáfora vem directamente da Natureza, que é o seu plano de fundo, pois este poeta é sensacionista. Ainda antes de analisarmos os textos a professora propôs-nos um desafio que consistia em encontrar um verso ou dois que explicassem o porquê do poeta, neste caso Alberto Caeiro, não se importar com as rimas nas suas obras. A resposta estava na página 181, do manual, no Poema décimo quarto:


“Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.”



Seguimos então para a página 176, onde lemos o Poema segundo. Fez-se uma leitura colectiva em que assinalámos apenas algumas palavras do poema e só essas partes eram lidas em conjunto, pela turma inteira, enquanto o resto do poema era lido na íntegra pela professora. Após esta experiência foi a vez da colega Nadine substituir a professora na leitura. Toda a turma dizia apenas as palavras assinaladas e a Nadine lia todo o poema. Após esta segunda experiência ainda surgiu uma terceira lida pela Madalena, mas desta vez ao contrário, ou seja, desta vez foi a turma que leu todo o poema, menos as palavras destacadas, enquanto a Madalena apenas lia as tais palavras. De seguida leu-se um pequeno texto dessa mesma página que explica que o poeta Alberto Caeiro faz da Natureza uma verdade absoluta.


Após esta análise, a professora fez a leitura do Poema décimo na página 177 e propôs-nos que dramatizassemos o poema, em leitura colectiva, e que uma parte da turma lesse a parte respectiva ao sujeito poético, e outra parte da turma lesse a outra parte do poema que cabia ao guardador de rebanhos. Depois desta leitura, fizemos outra, mas desta vez era somente o Francisco que lia a parte respeitante ao sujeito poético e todo o resto da turma lia a parte do guardador de rebanhos, de seguida foi a vez do Vasco que leu a parte do guardador de rebanhos e a turma lia a parte do poeta.
De seguida leu-se o Poema décimo quarto, desta vez na íntegra. Após a leitura, e antes da professora analisar o poema em conjunto com os alunos, discutimos sobre o significado da expressão “arte poética”. O Rodrigo disse que era quando o poeta diz o que é a poesia para si.
Seguimos então para a análise do poema. A única figura de estilo presente no poema é a comparação. A turma analisou o texto procurando as comparações existentes no poema: “Penso e escrevo como as flores têm cor”; “Comovo-me como a água corre”; “E a minha poesia é natural como o levantar-se o vento”. ESta última contém também uma metáfora relativamete banalizada.
Voltámos, novamente, a mudar de página, desta vez para a página 180 onde lemos um pequeno texto sobre Alberto Caeiro. Finalizámos a análise ao texto com o comentário, e ao mesmo tempo pergunta: por que é que Alberto Caeiro nunca se refere ao mar? O poeta nunca se refere ao mar, pois no seu “mundo” não há nada que seja misterioso, ilimitado ou profundo, todas estas características atribuídas ao mar.
Mudando novamente de página, na página 173 foi lida uma biografia do poeta Alberto Caeiro por todos os alunos da turma.
Já quase no final da aula a professora apresenta dois textos de Álvaro de Campos, outro heterónimo de Fernando Pessoa, representando duas das fases “poéticas”. A primeira fase tem o nome de “Decadentismo” e a segunda fase é designada por “Futurismo”, a fase do entusiasmo. O poema escolhido para caracterizar esta fase do autor é Ode Triunfal, que está situado na página 183 e que posteriormente foi lido em leitura colectiva num tom forte e exclamativo, como sugeriu a professora.
Finalmente, e antes de se finalizar a aula leu-se outra pequena biografia de Alberto Caeiro, bem como as suas Linhas de Sentido, Temas Recorrentes e Estilo.

Margarida Gonçalves, 12 A

Relatório da aula de dia 21 de Janeiro de 2009

No inicio da aula a professora falou-nos de duas visitas de estudo que iremos realizar, uma a 18 de Fevereiro, que é a Lisboa Pessoana e a outra que é uma peça de teatro sobre o Felizmente ao Luar.
Após estas informações a professora leu-nos uma versão dos Exercícios de Estilo, a narrativa, que é mais completa a nível das descrições e mais estruturada. Leu-nos também a versão animismo, que é mais do que uma animização pois vai mais fundo chegando a ser uma personificação. Por fim, a versão carta oficial, que só continha os aspectos mais importantes.
Depois desta leitura a professora leu-nos um poema de Canto de mim mesmo de Whitman, Walt, que é um poeta americano muito apreciado por Fernando Pessoa. O livro contém uma versão bilingue, foi-nos lida a versão portuguesa e a versão inglesa.
Após estas leituras iniciais estivemos a ler e a analisar um poema de Fernando Pessoa ”A Dor de Pensar” e foi-nos pedido que comparassemos as duas partes do poema, tendo em conta o ponto de vista formal e o conteúdo. Concluímos que o que há em comum entre estas duas partes é a "inveja", numa em relação à ceifeira e no outro em relação ao gato. A primeira parte do poema tem seis estrofes, sendo que, as três primeiras se referem ao geral, e nas três últimas, o emissor (poeta) começa a ter um receptor (ceifeira) sendo que este é o objecto do poema.
Depois de estudarmos o poema, lemos um texto referente a este onde a professora ia explicando algum vocabulário que não nos era familiar.
Por fim analisámos a segunda parte de outro poema também de Fernando Pessoa “o espelho de pensamentos”. Nesta análise salientámos o verso: “fragmentos de um mar de além”, pois “além” é um conceito muito importante na poesia de Fernando Pessoa, dá ideia de que neste caso, a felicidade, a totalidade, tudo o que é imortal ele conhece, ou seja, conhece algo que está para além dele.
Para concluir a aula, a professora deu ênfase à citação: “ Há entre mim e o mundo uma névoa que impede que eu veja as coisas como verdadeiramente são - como são para os outros” porque esta explica a maneira de ver e de pensar do poeta.

Diana, 12 E

Relatório:

A Professora deu início à aula desejando-nos um bom ano novo, perguntando como tinham corrido as férias e tudo isso, como já vai sendo habitual em todas as disciplinas e em todas as aulas de início de período, ao que se seguiu a marcação das datas dos testes.
Continuou a falar do início do período e do recomeçar das aulas e dos trabalhos.
Indicou-nos alguns trabalhos que teremos de desenvolver, relembrou os relatórios, marcou datas: de teste, de visitas de estudo e de trabalhos, tanto individuais como de grupo.
A Professora passou então a falar dos livros, dos quais vai retirar excertos, que nos lê no início de cada aula, cuja apresentação vai mudar. Vai passar a ler apenas um livro, intitulado de Exercícios de Estilo, de Raymond Queneau. Leu-nos dois excertos dessa obra, duas versões diferentes de um texto, comentando-o depois disso.
Depois leu um poema de Fernando Pessoa, do seu heterónimo Alberto Caeiro, um poema sobre as crianças, o menino Jesus em particular, o qual, mesmo sendo usada uma linguagem bastante simples, é bastante complexo, por no poema ser apresentada uma contraposição de ideias.
Falou-nos da Poesia, explicou-nos vários conceitos relativamente à Poesia, duas maneiras de a olhar e de a fazer, que havia a Poesia que era vista e tomada como se fosse uma arte trabalhada como faz o operário, e que havia também uma Poesia natural e espontânea. Falou-nos também da Arte Poética onde os poetas expõem a sua concepção de poesia.
Passou a retratar Alberto Caeiro, falando-nos da sua visão da Religião, dizendo que aparenta ser pagão e sensacionista.
Foi comentando o poema durante toda a leitura, dizendo-nos o que havia de mais importante e fornecendo-nos alguns aspectos importantes.
Completou a leitura, pedindo-nos que abríssemos os livros na página 148, para lermos um texto que corresponde ao excerto de uma carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, falando dele e da sua poesia, dos seus heterónimos, das razões para a criação destes, mas principalmente o que cada um despertava em si e em todos os que haveriam de ler, pelo menos o que ele tentou dar a entender a todos.
Esta carta pode vir a tornar-se uma base do estudo de Fernando Pessoa, pois nela mostra a Adolfo Casais Monteiro tanto o princípio, como o fim de cada heterónimo, digo isto porque Pessoa refere as datas de nascimento, datas de morte, os gostos, os sentimentos, as estruturas físicas, tudo o que poderia dizer acerca deles, ele escreve nesta carta, mostrando a Adolfo Casais Monteiro o que pensa e o que vê.
Explicou-nos agora também visto que estivemos a ler aquela carta.
Terminámos a aula, todos os alunos saíram e assim ficou completa a aula de dia 5 de Janeiro de 2009.
Tiago Moura

Diário

Diário de 15 de Janeiro de 2009
Aula de Português

Talvez o tempo lá fora não ajudasse, talvez o cansaço do chegar ao final da semana, nem as boas notícias de marcações de visitas de estudo me permitiam estar atenta. Estou a referir-me a mim, mas a professora reparou que também a turma não estava presente.
Sei que aula foi após o almoço, sei que chovia e estava nublado lá fora, sei que temos algum trabalho para o fim desta semana e talvez por isso me faltasse concentração e motivação.
Queria participar, queria falar, mas parecia que o meu cérebro não desenvolvia, conseguia tirar apontamentos, conseguia estar sozinha comigo mesma, partilhar verbalmente as minhas ideias ou as minhas opiniões era impossível, só dava para partilhar o conteúdo da aula com o caderno.
Via depois colegas a tirar apontamentos, a desenhar e outros a participar na aula, mas quando a professora perguntava algo mais complicado parecia que o cérebro da turma desligava, e só após algum tempo é que começava a aquecer.
Pensando nos cérebros preguiçosos como um carro, à maneira de Álvaro de Campos, hoje estavam estacionados, a professora procurava dar à chave, mas só de vez em quando o motor pegava.
Outra hipótese, como Alberto Caeiro pensaria, os mesmos crânios poderiam ser comparados a um rebanho que a professora conduzia, mas que pouco se queriam mexer.
Já como Ricardo Reis diria, estavam esses belos cérebros sentindo dor sem ao mesmo tempo a sentir.
Sem dúvida que apesar da pouca participação que hoje tive na aula, pude compará-la e muito com os heterónimos de Fernando Pessoa que agora estudamos.
Ana Filipa, 12º A