segunda-feira, 15 de junho de 2009

45 minutos de leitura silenciosa em Memorial do Convento

Entra "El-rei", o silêncio toma conta do palácio. Príncipes e fidalgos apresentam-se de olhos colocados nos livros, atentos, não reagem perante a presença imponente de D. João V. Sem barulho, como que se o palácio ninguém tivesse, injustiças são reflectidas, o rei é desrespeitado. Ninguém olha, ninguém venera, só as linhas compridas de livros proibidos são fervorosamente devoradas durante quarenta e cinco minutos intermináveis. Todos cumprem à risca o programado, El-Rei difama sozinho e continua com a ridícula construção da Basílica de S. Pedro. Furioso, deita abaixo os alicerces de toda aquela maqueta trabalhada. No palácio o estrondo é ouvido, mas como se nada fosse, ninguém se move, ninguém respira, ninguém corre em auxílio do rei. D.João V, como vários alunos da António Arroio, não saboreou o momento, ruídos eram ouvidos nos corredores, ainda que por breves instantes. Uma sala repleta de livros e silêncio, lábios quietos, apenas o virar de páginas era ouvido. Senti que no silêncio encontramos algo que raramente procuramos. Concentrados em páginas breves ou longas, percorremos e saboreámos segundo por segundo aqueles quarenta e cinco minutos de algo que parecia à partida impossível. Li um excerto sobre "A Profecia Maia" relativa a 2012. Embora concentrado nas linhas quisesse ter estado, não consegui. O silêncio, o giz parado, o "aristo" na mochila, o compasso guardado e a professora a ler Mia Couto levaram-me para outra dimensão, longe de tudo, longe da sala de geometria, longe de todo o trabalho que temos de cumprir. Durante quarenta e cinco minutos em nada pensei, profundo fui e sobre o que li ainda não sei. Fragmentos sobre 2012 ficaram, mas da experiência ficou ainda mais. Concordo plenamente com a ideia e repeti-la deveríamos mais vezes. Pode ser que da próxima El-rei e quem não aderiu à ideia se junte e perceba que para além de linhas e letras os livros dizem muito mais...

Miguel Rosa, 12 H

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