terça-feira, 21 de outubro de 2008

Aos peitos os filhinhos apertaram.

(foto escolhida por Margarida)


Deu sinal a trombeta Castelhana,
Horrendo, fero, ingente e temeroso;
Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana
Atrás se tornou as ondas de medroso.
Ouviu-o o Douro e a terra Transtagana;
Correu ao mar o Tejo duvidoso;
E as mães, que o som terribil escuitaram,
Aos peitos os filhinhos apertaram.



Dia 20 de Fevereiro de 1995; o meu pai levantava-me de manhãzinha. A sua cara brilhava de tanta alegria; nem se conseguia conter. Pegava em mim e beijava-me. Vestiu-me.
No carro, apenas o silêncio se ouvia. Íamos depressa, não conhecia o destino. Comecei a ficar nervosa com toda a excitação que via no meu pai.
Cheguei ao destino. Parecia um hospital… e eu que odeio hospitais! O meu pai puxava-me, levemente, pelo braço.
Depois da pequena viagem pelo elevador, o meu pai abraça-me, encosta a minha cabeça contra o seu peito;
Aos peitos os filhinhos apertaram.
Num imenso e estranho corredor viam-se inúmeras portas. Parámos em frente ao número 206. Empurrei e lá estava: a minha mãe, mais bonita que nunca. Os seus olhos tinham um brilho especial. O que tem ela ao colo? – Pensei eu. Parecia uma das minhas bonecas, aliás, era igualzinha à minha boneca Joana.
A minha mãe pegava nela com muito cuidado. A cabecinha da boneca estava encostada ao seu peito; Ao peito os seus filhinhos apertaram, como no momento em que se ouvia a trombeta Castelhana, como narrado n'Os Lusíadas, as mães agarravam os filhos com medo que algum mal lhes acontecesse. Aqui estamos na mesma situação.
Aproximei-me para ver melhor. Tive de passar pelo meu pai, que pegava a minha boneca fervorosamente. Eu bem pedia: - Deixem-me pegar, deixem-me pegar na boneca. Como criança de três anos pensava que já era uma senhora. Queria ver a boneca e tratar da boneca. A minha mãe pegou gentilmente naquela coisinha tão pequenina e entregou-ma. Era tão bonita. E mexia-se. Estava tão entusiasmada, e ainda fiquei mais entusiasmada quando me apercebi que aquela coisinha era um bebé verdadeiro. Os meus pais, todos babados, observavam-nos. A Martinha ria-se e eu ainda me ria mais de tão contente que estava. Encostei-a a mim e prometi nunca mais a largar, a não ser se os meus pais me obrigassem, o que acabou por acontecer; Aos peitos os filhinhos apertaram.
Horas depois, eu e o meu pai voltámos para casa. Íamos todos entusiasmados. Eu só queria contar aos meus amigos que tinha uma boneca real, chamada Marta, só para mim. Ao olhar para aqueles olhinhos prometi a mim mesma e à Marta, que nada lhe ia acontecer enquanto eu estivesse ao pé dela pois iria protegê-la para sempre.

Ao peito os seus filhos apertaram.


Margarida, 12º A

Um comentário:

Affonso disse...

adorei o texto!... então a fotografia!