quarta-feira, 15 de outubro de 2008

“Se a tanto me ajudar o engenho e a arte”: UM TPC DESAFIANTE; ESCREVER UMA CRÓNICA SOBRE OS LUSÍADAS A PARTIR DE UM VERSO DESTE POEMA ÉPICO


Os Lusíadas, Proposição, 2ª estrofe, verso 8 – “Se a tanto me ajudar o engenho e a arte”

Tinha cinco anos de idade. A dança já fazia parte de mim e como tal era uma menina do ballet da escola Alfa – Beta. Quase todos os dias o ritual de vestir o maillot cor-de-rosa e despir a roupinha escolhida pela mamã, fazia parte da minha rotina e eu adorava.
Uma manhã, a mamã calçou-me umas botas castanhas de cano alto, lindas. Calçou…E atou os meus atacadores (aqueles atacadores!).
No meu ritual de vestir e despir nunca me sentira tão atrapalhada! Os meus atacadores tinham um nó! Era uma missão impossível perceber como o iria desembaraçar.
Já choramingava, quando uma menina mais velha pega nos atacadores e diz: “posso ajudar?”. Eu sorri.
O mesmo se passou com Os Lusíadas, que nó! Ao início não entendia quase nada! Era um enigma para mim decifrar aqueles versos. Mas pensei: vou conseguir (“se a tanto me ajudar o engenho e a arte”) – estuda!
Assim foi: persistência, objectivo, uma missão, uma vitória.
Assim foi: Vasco da Gama e os navegadores que atingiram o objecto da sua demanda: a Índia. Camões “pára” a narração e glorifica uma vitória, um povo, que apesar de pequeno investiu numa missão transcendente, impossível: um Império, o novo Mundo!
“ Se a tanto me ajudar o engenho e a arte” irei orgulhar-me do que aprendi, do que estudei para “desatar aquele nó”. Tal como o pequeno povo que se pode orgulhar por ter desempenhado uma missão tão singular, insubstituível.

Sara Alves

Um comentário:

Affonso disse...

adorei a comparação do nó!